Dia 71 ao 84 - 02/6/2015 a 15/06/2015
De: Encarnación , Paraguai
Para: Santo Tomé , Argentina
Gastos até agora: R$2.670,00
Gastos por dia: R$31,80
Distância pedalada até agora: 1150km
Distância percorrida por outros transportes até agora: 889km
Furos de pneu até agora: 4
Em Encarnación, a última cidade do Paraguai, ficamos 7 dias, e aproveitamos esse tempo para uma renovação: limpamos nossos equipamentos, lavamos todas as roupas e revisamos as bicicletas, regulando freios e "marchas", trocando as correntes pelas correntes reserva e lubrificando-as. Esse rodízio de correntes, que faremos a cada 1.000Km pedalados, serve para elas serem "gastas" em conjunto com os dentes das catracas e das coroas. Se não fizermos o rodízio, corremos o risco de termos que comprar coroas e catracas novas se uma corrente com bastante uso apresenta algum problema.
Foto 1: Primeira revisão, 1.000km.
Além disso compramos alguns equipamentos, começando a nos preparar para o frio, e deixamos outros que não estávamos usando.
Os últimos dias na cidade passamos com minha família, que nos presenteou com sua visita. Como se isso já não fosse o suficiente, ainda nos patrocinaram totalmente nesses dias, como grandes apoiadores do Projeto Ciclos, desde o seu início ;D. Valeeeu!!!
Foram dias de passeio pela região, muita conversa, risadas, portunhol, fartura em comida e puro conforto, num hotel com cama macia, ducha quente e um super café-da-manhã. Minha mãe e minha cunhada ainda encontraram motivos para tecerem críticas à comida e às acomodações, hehehe, mas para a Marcela e eu estava o mais puro luxo.
Foto 2: Família Mortean.
Baterias recarregadas, era hora de cruzar a ponte e chegar em território argentino.Como não era permitido cruzar a ponte em bicicleta, pegamos um trem que faz ese serviço, sem termos que pagar mais por levá-las conosco, maravilha!!!
Em Posadas, através da rede Couchsurfing (www.couchsurfing.com), ficamos na casa do casal argentino Alfredo e Silvínia, que adora o Brasil; eles passam férias aí todos os anos e falam português muito bem. Foram ótimos anfitriões, nos falaram bastante da Argentina, compartilharam sua comida conosco e nos ajudaram a conseguir um mapa do país, para nossa viagem.
Antes de sair de Posadas, ainda tivemos mais um furo no pneu da minha bicicleta. No dia de partirmos choveu bastante na madrugada, e logo que amanheceu (o que ocorreu apenas às sete da manhã) a chuva deu uma trégua. Esse era o sinal que esperávamos para começar a pedalar; nos despedimos de nossos simpáticos anfitriões e partimos.
Foto 3: 7:30hs da manhã. Muita chuva no retorno às pedaladas.
É ótimo desfrutar de todo o conforto que tivemos em Encarnación e Posadas, mas igualmente prazeroso é voltar a pedalar, sem saber onde dormiremos no final do dia. Pegamos chuva na estrada, e ativamos o "modo chuva", que passou no teste, com capas de chuva nos alforjes e em nós. No momento de pararmos para preparar comida e dormirmos, encontramos abrigo no terreno de uma igreja na beira da estrada, depois de nos negarem permissão para acampar num posto de gasolina e num posto de fiscalização do governo.
Desde o dia anterior entramos na "Ruta 14", que vai até Buenos Aires, a cerca de 1.000Km dali, rota pela qual trafegam vários caminhões. A pista, simples, é muito boa, mas não tem acostamento asfaltado, e os motoristas não são tão corteses como os paraguaios, o que exige bastante atenção nossa e eventuais saídas da pista para dar passagem a caminhões. Em casos assim, o retrovisor esquerdo é essencial, para monitorar a aproximação de veículos.
Foto 4: Abrigo confortável e seguro.
Dormimos bem, inclusive suando dentro do saco de dormir, enquanto lá fora fazia cerca de 10 graus. De manhã ativamos o "modo frio" para pedalar, usando a teoria das quatro camadas (http://www.olinto.com.br/index.php/dicas-cicloturismo/vestimenta/), e partimos rumo a Gobernador Virasoro, a 48km dali.
Foto 5: Modo frio para pedalada.
Era o dia 12 de junho, quando se comemora o dia dos namorados no Brasil, e num camping a Marcela fez um almoço-janta romântico, regado a sopa cremosa de abóbora com azeite de oliva, farofa com ovos e pão com abacate. "Exquisito!!!", como diríamos em espanhol.
De Virasoro fomos a Santo Tomé, há 66Km. Mas, com apenas 7Km de pedalada comecei a sentir a bicicleta pesada, olhei para baixo e vi o pneu traseiro murchando. Outro furo! O quarto da viagem, o quarto na minha bicicleta, o quarto no mesmo pneu. Aproveitamos o momento para pedir carona, apesar de eu prefeir consertar o furo e seguir pedalando. Depois de uma hora e meia de tentativa, sem sucesso, troquei a câmara e seguimos viagem, mas antes disso a Marcela teve uma crise de choro, dizendo que estava cansada, com dor nas costas e que não queria pedalar naquele dia.
A partir dali, como um sinal de que é necessário ter esperança, o caminho ficou mais fácil: as subidas e descidas presentes desde Posadas, deram lugar a trechos planos, e fizemos 60Km em apenas quatro horas, com a Marcela cantando de alegria nos trechos finais.
Em Santo Tomé, na divisa da Argentina com o Brasil (São Borja-RS), fomos recebidos por Marina e Lucrécia, pesquisadoras numa universidade local, que nos preencheram com um reconfortante banho quente, um mate (chimarrão), boa comida e ótimas conversas, regadas a vinho argentino, que foram até uma da manhã na primeira noite.
Foto 6: Marina e Lucrécia, lindas amigas. Obrigada pelo carinho.
Ficaremos na cidade por três dias, desfrutando do ambiente agradável da casa da Marina. Aqui pudemos planejar nossos próximos passos. Tentaremos fugir de "los tramos sin banquina" (trechos sem acostamento); iremos até Paso de Los Libres de carona ou ônibus, a 200Km daqui, pois parece que desde aí há acostamento asfaltado, e seguiremos pedalando até entrarmos no Uruguai, onde já temos alguns contatos para nos hospedar.
Vamo que vamo!!!