top of page
Foto do escritorOs Antípodas

Dietista, eu?

Atualizado: 7 de abr. de 2020


Quando sentamos em uma mesa para realizar uma refeição, é inevitável a presença do assunto alimentação. Todos tem sempre alguma história para contar, uma dica para dar ou uma informação para compartilhar; enfim, o tema é explorado e discutido intensamente.

Eu, muitas vezes, me vi cercada de perguntas, o que me agrada, mas sempre me questionei sobre a veracidade de minhas respostas; academicamente falando, sou nutricionista e especialista em nutrição clinica. Será que isso me torna detentora da verdade sobre a alimentação?

Me graduei numa universidade de Belo Horizonte/MG em 2008 e me especializei em 2010. Terminados meus cursos, não me sentia preparada para responder a tantos questionamentos. Sempre fui uma boa aluna; dediquei-me para me tornar uma profissional competente e responsável, procurando sempre me manter informada sobre as novidades e pesquisas realizadas neste campo de atuação.

Durante minha graduação aprendi muita técnica e teoria. Aprendi sobre os alimentos e seus valores nutricionais e para qual doença cada alimento era adequado.

Mas o alimento é vida, não é? Por que sempre está associado a uma doença?

Aprendi a calcular e a recalcular dietas, pois me formava para tratar uma sociedade doente. O número de pessoas com diabetes, hipertensão, obesidade, câncer, entre outras patologias ligadas à alimentação vem aumentando progressivamente no Brasil e no mundo. De acordo com o Ministério da Saúde, só em 2010, 54 mil brasileiros morreram em decorrência do diabetes. Isso significa que a doença matou quatro vezes mais do que a Aids (12 mil óbitos) e mais do que o trânsito (42 mil). Assim, eu teria “clientes” ou “pacientes” em todas as faixas etárias e classes sociais.

Seria meu curso então uma invenção para tranquilizar as pessoas enquanto saboreiam um fast food?Afinal, é só ir ao nutricionista comprar uma dieta e tudo volta ao normal.

Mudas de alface. Fonte: www.facebook.com/tiba

Não aprendi nada sobre o desenvolvimento e cuidado para com os alimentos. Assim como eu, milhares de profissionais desta área não sabem como se desenvolve, ou como são produzidos e processados os diversos alimentos que indicam para aqueles que os procuram em busca de uma solução para seus problemas. A relação dos nutricionistas com os alimentos fica restrita a prateleiras de supermercados e tabelas padronizadas da Associação Dietética Americana (ADA).

Neguei muitas vezes minha formação, não me sentia preparada, não conseguia responder meus próprios questionamentos para poder exercer a verdadeira nutrição. Nutrir as pessoas é mais que uma reeducação alimentar; é compartilhar informações que vão além de uma sala de aula, e praticá-las; é promover uma integração entre as pessoas e o alimento presente em suas mesas, que leve à saúde; é criar um vínculo entre o alimento e o homem.

A berinjela não nasce numa prateleira de supermercado. Assim como nós, os alimentos tem saúde, vida, energia e tudo isso vem da maneira como foram plantados, cultivados e colhidos. Eles terão mais saúde quanto mais rico for o solo, e poderão transmitir essa saúde àqueles que os consumirem.

Diante deste cenário, e cansada de fazer parte de um sistema que fomenta o consumo de produtos industrializados, ao mesmo tempo em que endeusa o corpo “perfeito”, fui em busca da verdadeira nutrição.

Aprendiz de Nutrição. Fonte: https://www.facebook.com/tiba

Atualmente, sou uma aprendiz de nutrição. Ainda não me sinto preparada para assumir minha formação, pois tenho muito que aprender. Quando estou em uma mesa e me questionam sobre nutrição, me sinto livre para dizer que não sei e que agora estou aprendendo o que é me alimentar. Hoje para mim os alimentos não são mais tratados como simples calorias, são excelentes fontes de nutrientes e de vitalidade que foram adquiridas enquanto eles se desenvolviam.

Sigo trabalhando em uma horta e aprendendo diariamente sobre o crescimento daqueles que nos enchem de vida e saúde. Aprendi como são lindas as flores da rúcula, como é delicado o crescer do Brócolis, a rapidez e a fantástica coloração da cenoura, rabanete e beterraba; enfim, tenho uma integração maior com a terra, minha fonte de energia, e com meu corpo.

Cenoura orgânica.

Quero ser uma profissional dedicada em promover vida e não continuar me aproveitando da delicada saúde de nossa sociedade. E através deste texto, me direciono aos companheiros de profissão a se questionarem a esse respeito.

Por que não aprendemos nas universidades a plantar uma horta?

Afinal temos a responsabilidade de nutrir.

Não sejamos simples dietistas.

Feliz dia do Nutricionista.

Bibliografia:

3 visualizações0 comentário
bottom of page